sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Da camiseta

Ela já estava de pijama, estava perto da hora de dormir.O dia havia sido cansativo e ela já estava quase com os olhos fechados, mesmo ainda de pé, andando por todo o quarto.
Algo estava estranho no ar, e ela não conseguia identificar o que.Talvez a tonteira, talvez o gosto das coisas.O dia foi todo diferente pra ela e tudo ainda rodava na sua cabeça.Achou que estar adulta era fazer o que quisesse, mas não era exatamente assim.Agora sabe como funciona.
Ou não.Na verdade, nem sabia direito porque fez o que fez.Só sabe que falou, falou um monte de coisas, gaguejou, enfim...Fez papel de palhaça mais uma vez.Se ela tivesse ficado quieta, se ela não tivesse se manifestado.Mas será que foi só ela que se manifestou?
Ela tinha a sensaçao de que podia sentir na própria superfície da pele o que acabara de fazer.Não tão grave que pudesse se arrepender, mas grande o suficiente pra mudar o rumo das coisas que havia traçado para si.
Talvez uns dias lhe bastassem para recolocar a vida nos eixos.
Mas nem adiantava mais.Já havia feito, havia deixado, havia se entregado.Arrependeu-se por ter deixado.Logo depois, pensou que a culpa não era só dela.
Pegou de cima da cama a pequena pilha das roupas utilizadas no dia: uma calça jeans, um par de meias brancas, roupas de baixo e uma camiseta preta.Como se não lembrasse de nada, levou a manga da camiseta ao nariz para certificar-se do cheiro de desodorante (quase não suava, mas deixava cheiro de Rexona nas mangas das camisetas).Foi ali que ela sentiu aquele cheiro.Na gola.Na outra manga.Nas costas.Na barra.Nas suas mãos aquele cheiro já lhe havia dominado.Cheirou seus braços e lá estava ele.No cabelo.No pijama.Nos ombros.
Sabia de onde vinha aquele cheiro e foi tirá-lo de si debaixo do chuveiro.Pouco se importou com a hora tardia e enfiou a cabeça na água.Sabonete por todo o corpo, por todo o box.Irritada, esfregou o xampu na cabeça, como se arrancasse piolhos inexistentes dos longos cabelos castanhos.Não queria aquele cheiro delicioso para si, não queria ter lembrança de mais nada.
Saiu do banho, enrolou-se na toalha verde, voltou para o quarto.Vestiu outro pijama, secou os cabelos longos, sentou-se na cama.
Respirou aliviada, como se tivesse arrancado quilos de cheiro do seu corpo.Sorriu, pois sabia que a noite poderia ser menos dificil.Talvez a semana fosse um pouco mais, nunca é facil enfrentar a luta diária entre vc e vc mesmo.
Como numa inércia de sono, jogou-se na cama, com os pés ainda pro chão.Mas quando levou as mãos ao rosto, com o intuito de esfregar os olhos, sentiu...
...o cheiro ainda não havia saido.Pior; a camiseta preta estava em cima do travesseiro, que agora estava totalmente embebido daquele cheiro tão bom e tão cruel...

28/03/07 - Pat =)

P.S.:Juro que amo esse texto.Não gosto de chamar meus textos de crônicas, pois como disse o Rony, meus textos parecem confidencia.Nao gosto de escrever poesias, a subjetividade é mta e eu amo a objetividade.Amo esse texto pq ele reflete uma fase recente da minha vida que foi meio engraçada pra me desvencilhar.Gosto da camiseta que faço referencia.Gosto dessa parte da minha história.Acho que ela merece mais alguns textos.Um dia eu ponho uma poesia que eu fiz na minha época de fossa...

Pat =)

2 comentários:

Bianca disse...

parece confidência mas uma "confidência literária"...de si para si mesmo. Gostei muito.
eu tenho uma camisa com cheiro cruel...mas ela é branca e obviamente não é minha...muito cruel...Muito entendo.
^^

Pat disse...

Ah, o cheiro nao era de cece nem de inhaca, viu???????

Era um cheiro bom...e estranho O.O

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